terça-feira, 29 de maio de 2007

Pasodoble

As novas tecnologias têm destas coisas. Enquanto ripo descaradamente um CD para a minha extensa e ultra-hype livraria iTunes delicio-me ao som de Dimitri from Paris e de um tema que ainda não consegui identificar, e que me remete para os loucos anos 20 (em tudo parecidos com os meus!).


É imediato. Vou buscar os peep toe prateados da ontem à noite – indecentemente largados a 3 milímetros da soleira, tadinhos dos meus queridos – e de repente, ainda que sejam cinco da tarde, a minha sala transforma-se numa pista de dança. Fico com aquela sensação de festa, aquela vontade quase religiosa de fechar os olhos e só sentir o momento. Aquela magia indescritível que começa não sei onde e dá uma vontade incontrolável de… dançar.

Claro que toda esta concentração de actividade física só poderia ter como resultado uma imensa vontade de… comer.
Num solarengo domingo à tarde, junto à praia. Dois casalinhos enamorados, num quase-que-me-dá-vomitos quadrilátero, reprovam a minha aparência ainda noctívaga. Elas mais que eles, pois claro. Que ainda não conheci nenhum Santo que não gostasse de um bom decote e: Bolas! Esqueci-me de tirar os sapatos prateados e o rímel esborratado a lembrar os melhores anos de Courtney Love também não ajuda. Só por isso, vou sentar-me mesmo ao vosso lado, numa mesa tão pertinho que quase consigo pressentir a paz podre do politicamente correcto.

Para mim?
Camarões grelhados e uma cerveja.

Para eles?
Torradas aparadas e meias-de-leite, clarinhas. Depré.

Eles vão para a Serra da Estrela – só gosto da agua e mesmo assim só de segunda a sexta, entre as 12h00 e as 19h00 - passar um fim-de-semana calmo. Estão cansados do trabalho do escritório, do stress do trânsito, das complicações da vida a dois, que hão-de ser três ou quatro num berreiro desalmado.
Por esta altura, entrei em Stereo. Estou definitivamente interessada nos pormenores de um fim-de-semana na Serra dividido por dois casais. Há as despesas, o carro que se vai levar e a comida para o primeiro dia devidamente etiquetada em tupperwares coloridas.
Para mim, pode ser mais uma cerveja que tanta preocupação está a dar-me sede.
E eis senão que, diz ela: “Dançar, eu? Só se beber 3 ou 4 copos”.

Pensei em mim própria depois de 4 cervejas, e achei por bem, abandonar o repasto. Afinal, fiquei com a sensação que a vaca era eu.
Ruminei a frase no caminho para o meu PC a gritar: CRÓNICA – e pensei que não conseguir dançar deve ser das coisas mais tristes da vida. Um sofrimento apenas comparável a só ter um disco riscado da Cher ou a viver toda a vida sem uns Chirstian Louboutin.

Apeteceu-me voltar atrás e dar-lhe uma Lambada!
Ladies, Flow! Se dançarem – mesmo que em frente do espelho sincero lá de casa – metade das preocupações, e alguns papos de celulite, desaparecem. Olé! Ficamos mais bem-dispostas, mais bonitas, mas sexys… Pelo menos até ligarmos a MTV e vermos a Shakira, Shakira com a Beyoncé, Beyoncé.


Voltei mesmo ao lounge, ao som de um Quick Step mental… mas já não encontrei as parelhas dos pés de chumbo. Que Tango!
Mesmo assim, subitamente simpática dos pulinhos de dança (estão a ver como dançar funciona?), espero que consigam fazer do fim-de-semana um verdadeiro Forró, ou uma tourada se a OST for do Escobar.

E já agora, amorosos xupipipitu, tragam-me umas garrafas de água da Serra que a semana é longa, alcohol-free e está mesmo a começar.