segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Reality Show

O paço ducal de Vila Viçosa, emblemático pela sua grandeza, não contempla a proximidade líquida de Borba. O resultado da junção de duas garrafas espirituosas a uma calçada desalinhada pelo tempo só poderia ser um pé torcido e um sábado à noite de sofá. Surfing no comando da magia.


Gaja que se preze, condição em que me inscrevo sem dúvidas ou hesitações, não sai à noite de pé elástico. Gaja que colecciona sapatos, muito menos se atreve a fazê-lo de rasos. Credo.
Portanto, na minha nova condição de saci-pererê, afoguei as mágoas de um sábado sem night fever na dita da caixinha mágica. Depois da xaropada de reality, ora canta, ora dança, ora chora (coisa que a mim acontece sempre ao contrário, quando choro geralmente fico com vontade de cantar e dançar, mesmo de pé torcido… ou seria do Borba?) chegou a sessão da noite!

Já me imaginava aflita sem conseguir decidir o que ver. Eu e a minha mente sofá-surfing entre filmes oscarizados, galardoados e aplaudidos (actividade que conseguiria fazer porque não magoei as mãozinhas!) Claro que essa euforia me passou num zapping quando entendi que nos canais do Estado a programação se dividia entre uma reposição Stalónica-pós-rambo-e-fita-vermelha-na-grande-carola e uma qualquer obra intelecto-depressiva-europeia-grande-seca. A TV dos 15 anos apresentava um Nicholas Cage com as piores extensões do mundo numa saga bonzinho-contra-mauzinhos-porcos-e-suados-o-bem-prevalece. Na 4, reinavam as capacidades interpretativas (kakakaka!) de Arnold-Mister-Musculo-Schwarzenegger-pré-politico.

Manca de aborre-cimento (que se o fosse, de certeza o pé não ficaria assim) resolvi dedicar-me à pesca de interessantes artigos impressos.
Sem show, mas garantindo que é reality, o Instituto Italiano Riza Psicomatica delibera que as discotecas estimulam os estados depressivos e são, por isso, locais a evitar. Um grande filme, dito numa deixa só.
Sem explicações ou guião que se seguisse ao chavão dos psicólogos da pasta, e dado que tenho mais cérebro, ainda que menos musculo, que o Silvester e o Arnie – juntos! -, fiquei a matutar no assunto. Já existem catorze mil, trezentas e vinte e sete razões para ficarmos deprimidos, como é que sair pode ser mais uma? Sair só pode estimular o que temos de melhor… Desde começar por decidir o que vestir, passando pelos telefonemas e mensagens dos amigos algures perdidos ou atrasados, até sabermos onde finalmente vamos levantar braços e brindar ao facto de estarmos vivos.
Deprimente é ficar em casa, um sábado à noite, e levar com estes guiões rabiscados ao acaso. Da mesma forma tirei algumas peças e à velocidade legal – que o pé não permite mais – acelerei para fora de casa.

-“Já ligou, já ligou o setecentos e XPTO???? Ligue, ligue porque eu tenho dinheiro para dar. Produção?”
– Alguma, mas a esse filme é que me recuso a assistir ou fico realmente deprimida.

Grande ASAE!

Finda a época em que todas as lógicas são ultrapassadas pelas subidas dos termómetros, é tempo de balanços do mês do signo mais equilibrado do Zodíaco.

O Verão de 2007 há-de ficar para sempre lembrado como o único Verão onde o que menos subiu foram as temperaturas.

Subiram as bainhas, desaparecem as mangas e apertaram-se noites, que se seriam de grande alargamento, à custa de um grande ASAE. Em alguns casos, vários.
Os cépticos que acham que as autoridades portuguesas obsoletas puderam ver como se usa um avanço de estação.
De preto integral os Men In Black da exterminadora ASAE entraram nos Clubs e indiferentes a horários, clientes ou conceitos propagaram uma verdadeira caça às bruxas em todos os envolvidos saem devidamente queimados.

Ainda ninguém se entendeu, pelo menos os lentos e tão leigos quanto eu, sobre a legalidade da utilização de temas comprados através da Internet. A única certeza é que se os Dj’s forem apanhados aka caços com CD’s brancos é multa pela certa. E apreensão.
Grande ASAE!
Clap. Clap. Clap. Na continuação da promoção do chico-espertismo nacional.
Enquanto a lei se assemelha a um buraco tão negro quanto os coletes (à prova de bala?) dessa equipa alienígena proliferam todas as técnicas possíveis e algumas inimagináveis para contornar o ASAE.
Imprimem-se labels, inventam-se capas coloridas… Tudo serve para riscar o jogo perverso nos Men In Blech.
Alguns escapam, outros não. Sobretudo os que não têm as contas em ordem. Os que não têm os funcionários “legais” (não os obrigando a passar um rebido verde que reduz para vermelho o lucro de uma noite com 8 ou 10 horas de trabalho). Os que tem bebidas maradas nos bares.
Clap. Clap. Clap.
Grande ASAE.
É preciso combater o banditismo. Inclusivamente aquele que faz dispara tiros na Zona Industrial do Porto. Mas, ASAE, não poderás tu fazer a coisa sem tanto estardalhaço? Sem que de repente pareça que estamos todos reféns enquanto a música se vai aninhando dentro dos discos com medo de não ser pura?
Que pariu, esta teoria do espectáculo gratuito “a ver se metemos medo”. Como se por osmose a teoria da opressão funcionasse. Que las hay, hay: e mesmo assim tentaram queima-las. Por isso não esturriquem as já chamuscadas noites portuguesas. Aproveitem que a silly season terminou e façam como o signo regente: equilibrem-se e deixem-nos trabalhar!