terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Beautiful people. Glamour. Fashion people. Dress Code.

* E um Bom 2008!




De todos os mais comuns, naturalmente em inglês que é malta é assim pró… Deixa-me pensar, ah! Já sei…) Fashion, adjectivos usados para cativar clientes o que mais me espanta não deixa nunca de ser o Dress Code. É como se de repente alguém tivesse pensado: “Eh pah este fim-de-semana gostava de ver os clientes da minha discoteca todos nus. Como não pode ser, bota aí um Dress Code Sporty Chic que e minha mulher leu numa revista que estava na moda”. E lá vai a malta, em alegre rebanhada, comprar leggings e punhos de ténis na tentativa de caber lá nessa linha escrita com mesma ligeireza que beautiful people.

Eu gosto especialmente do beautiful people. Sobretudo porque alguém deve estar convencido que a beleza é um conceito universal e transversal a culturas, idades e sexos. Alguém do que, não me lixem, 95% das pessoas não são top models. São tão normais quanto eu e os meus leitores que também acordam muitas vezes a pensar que tem de mais de bagulho do que de manequim. Os outros 5% que efectivamente são estupidamente bonitos têm de carregar esse fardo – coitados – e ainda lucrar com isso.


É que, geralmente, o flyer do beautiful people vem acompanhado de inúmeras presenças de actores com sonhos de açúcar e manequins saídos do último casting. E dou por mim ao lado deles, numa noite de Glamour: claro, a queixarem-se de que ser bonito é uma seca. Do fundo do meu 1 metro e 65 m olho em torno de uma série de cabeças douradas e sorrisos revestidos com as ultimas tendências e aquele ar de “eu, produzir-me??? Nunca!” que demorou mais de 3 horas a conceber. Tem 18, 20, 23e na sua maioria são manequins mais ou menos conceituados. Avalio o tamanho da desgraça de que se queixam: estão a ser pagos para se divertirem apenas porque são bonitos. Porque alguém decidiu que a beleza que emanam faz deles ícones para outros milhares que nesse preciso momento estão a sonhar com uma vida que, provavelmente, nunca irão ter. Vivem entre dietas, SMS, desfiles e sessões fotográficas. Há os que viajam, os que tem patrocínios de toda a ordem até os que são capa de revista. Não desenvolveram nenhum talento, são bonitos e isso é a sua imagem que marca. Presença. Ser pago para se estar num sítio com copos à borla é das coisas mais maravilhosas que a noite inventou. Não admira portanto que de repente os pais nem considerem que os filhos estudem ou tenham uma adolescência saudável a repleta de brincadeiras. Os pais são os primeiros a empurrar os filhos para castings intermináveis e ferozes de onde resultam, muitas vezes, feridas na auto-estima que vão demorar anos a cicatrizar.

A hora avança enquanto eles brindam ao facto de estarem vivos e poderem escolher qualquer ovelha do rebanho que os olha com a mesma dose de desdém e fascínio, e elas se queixam dos fotógrafos e dos telemóveis que apontam directamente para o decote. Enquanto elas se queixam que é tarde e que os pés já estão a doer. Enquanto elas dizem que já cumpriram o contrato e os sorrisos de cachet se transformam em birras que começam a definir o Dress Code. De pijama, é como deviam passar a noite. Conscientes de que a beleza é só uma época biológica da vida. E que fundamental será sempre quem somos, nunca o que outros vêm. Bem-vindas noites de 2008. Com menos chavões e muito mais vontade de viver. Até já.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Reality Show

O paço ducal de Vila Viçosa, emblemático pela sua grandeza, não contempla a proximidade líquida de Borba. O resultado da junção de duas garrafas espirituosas a uma calçada desalinhada pelo tempo só poderia ser um pé torcido e um sábado à noite de sofá. Surfing no comando da magia.


Gaja que se preze, condição em que me inscrevo sem dúvidas ou hesitações, não sai à noite de pé elástico. Gaja que colecciona sapatos, muito menos se atreve a fazê-lo de rasos. Credo.
Portanto, na minha nova condição de saci-pererê, afoguei as mágoas de um sábado sem night fever na dita da caixinha mágica. Depois da xaropada de reality, ora canta, ora dança, ora chora (coisa que a mim acontece sempre ao contrário, quando choro geralmente fico com vontade de cantar e dançar, mesmo de pé torcido… ou seria do Borba?) chegou a sessão da noite!

Já me imaginava aflita sem conseguir decidir o que ver. Eu e a minha mente sofá-surfing entre filmes oscarizados, galardoados e aplaudidos (actividade que conseguiria fazer porque não magoei as mãozinhas!) Claro que essa euforia me passou num zapping quando entendi que nos canais do Estado a programação se dividia entre uma reposição Stalónica-pós-rambo-e-fita-vermelha-na-grande-carola e uma qualquer obra intelecto-depressiva-europeia-grande-seca. A TV dos 15 anos apresentava um Nicholas Cage com as piores extensões do mundo numa saga bonzinho-contra-mauzinhos-porcos-e-suados-o-bem-prevalece. Na 4, reinavam as capacidades interpretativas (kakakaka!) de Arnold-Mister-Musculo-Schwarzenegger-pré-politico.

Manca de aborre-cimento (que se o fosse, de certeza o pé não ficaria assim) resolvi dedicar-me à pesca de interessantes artigos impressos.
Sem show, mas garantindo que é reality, o Instituto Italiano Riza Psicomatica delibera que as discotecas estimulam os estados depressivos e são, por isso, locais a evitar. Um grande filme, dito numa deixa só.
Sem explicações ou guião que se seguisse ao chavão dos psicólogos da pasta, e dado que tenho mais cérebro, ainda que menos musculo, que o Silvester e o Arnie – juntos! -, fiquei a matutar no assunto. Já existem catorze mil, trezentas e vinte e sete razões para ficarmos deprimidos, como é que sair pode ser mais uma? Sair só pode estimular o que temos de melhor… Desde começar por decidir o que vestir, passando pelos telefonemas e mensagens dos amigos algures perdidos ou atrasados, até sabermos onde finalmente vamos levantar braços e brindar ao facto de estarmos vivos.
Deprimente é ficar em casa, um sábado à noite, e levar com estes guiões rabiscados ao acaso. Da mesma forma tirei algumas peças e à velocidade legal – que o pé não permite mais – acelerei para fora de casa.

-“Já ligou, já ligou o setecentos e XPTO???? Ligue, ligue porque eu tenho dinheiro para dar. Produção?”
– Alguma, mas a esse filme é que me recuso a assistir ou fico realmente deprimida.

Grande ASAE!

Finda a época em que todas as lógicas são ultrapassadas pelas subidas dos termómetros, é tempo de balanços do mês do signo mais equilibrado do Zodíaco.

O Verão de 2007 há-de ficar para sempre lembrado como o único Verão onde o que menos subiu foram as temperaturas.

Subiram as bainhas, desaparecem as mangas e apertaram-se noites, que se seriam de grande alargamento, à custa de um grande ASAE. Em alguns casos, vários.
Os cépticos que acham que as autoridades portuguesas obsoletas puderam ver como se usa um avanço de estação.
De preto integral os Men In Black da exterminadora ASAE entraram nos Clubs e indiferentes a horários, clientes ou conceitos propagaram uma verdadeira caça às bruxas em todos os envolvidos saem devidamente queimados.

Ainda ninguém se entendeu, pelo menos os lentos e tão leigos quanto eu, sobre a legalidade da utilização de temas comprados através da Internet. A única certeza é que se os Dj’s forem apanhados aka caços com CD’s brancos é multa pela certa. E apreensão.
Grande ASAE!
Clap. Clap. Clap. Na continuação da promoção do chico-espertismo nacional.
Enquanto a lei se assemelha a um buraco tão negro quanto os coletes (à prova de bala?) dessa equipa alienígena proliferam todas as técnicas possíveis e algumas inimagináveis para contornar o ASAE.
Imprimem-se labels, inventam-se capas coloridas… Tudo serve para riscar o jogo perverso nos Men In Blech.
Alguns escapam, outros não. Sobretudo os que não têm as contas em ordem. Os que não têm os funcionários “legais” (não os obrigando a passar um rebido verde que reduz para vermelho o lucro de uma noite com 8 ou 10 horas de trabalho). Os que tem bebidas maradas nos bares.
Clap. Clap. Clap.
Grande ASAE.
É preciso combater o banditismo. Inclusivamente aquele que faz dispara tiros na Zona Industrial do Porto. Mas, ASAE, não poderás tu fazer a coisa sem tanto estardalhaço? Sem que de repente pareça que estamos todos reféns enquanto a música se vai aninhando dentro dos discos com medo de não ser pura?
Que pariu, esta teoria do espectáculo gratuito “a ver se metemos medo”. Como se por osmose a teoria da opressão funcionasse. Que las hay, hay: e mesmo assim tentaram queima-las. Por isso não esturriquem as já chamuscadas noites portuguesas. Aproveitem que a silly season terminou e façam como o signo regente: equilibrem-se e deixem-nos trabalhar!

domingo, 26 de agosto de 2007

Day and Night

Podia começar a minha crónica fazendo referência às incontáveis vezes em que ouvi o tema que dá titulo aos meus escritos, mas acabada de o fazer, não o vou fazer mesmo.
Já perceberam, não já?
Estou para lá de furi-bunda (e sim, se têm furinhos na dita é celulite, pela certa).

O dia e a noite têm, descobri, uma evidente relação com o ódio e o amor. E eu, que nem gosto de facilitadores proverbiais, admito: um é sempre o que está mais perto do outro. O dia da noite. O ódio do amor.
Na noite os sentimentos opõem-se e andam à velocidade da luz, com efeito directo sobre a piada da inteligência ser tão rápida como a dita: até abrirem a boca todas as pessoas podem ser inteligentes. Mas, depois, à mulher de César há que sê-lo, mais do que parecê-lo.

Estava eu a apreciar o look trendy de um destes RP’s da noite quando, pecado capital, pisei uma Zona Reservada a, como dizer, pseudos.
- “Esta zona é reservada!”
– “Ah! Ok, eu sou organização: só quero dar uma vista de olhos”
– “Então, rápido que isto é só para figuras conhecidas”.

Julgo que nem o pensamento mais grotesco de Rafael Bordalo Pinheiro (uma figura muito conhecida, sobretudo quando era vivo!) chegou sequer ao pé dos que se cruzaram nos meus hemisférios cerebrais e que determinaram, igualmente, um belo corar de bochecha num sentimento humilhante que já não sentia há alguns anos.

Foi assim, que em vez de uma bela palmada, dei um passo atrás e dei a mão à palmatória: o amor pode transformar-se em ódio num instante. E uma noite pode estrelada transformar-se no inferno do trânsito da baixa portuense às seis da tarde. E eu posso transformar-me numa anta, mas deixei isso para o meu interlocutor que de repente passou a ter o look mais parolo da noite. Do mês. Aliás: do ano.

Na realidade, a prepotência e a arrogância conseguem passar bem mais despercebidas durante o dia. Durante a noite: são transparentes e angulosas como cubos de gelo. E o problema é que não se dissolvem na essência de nenhum liquido em que as tentemos dissolver: ficam sempre, para sempre, marcadas no nosso cartão.

Eu odiava as faltas de educação na noite. Eu amava os Bons-dias feitos de croissants com manteiga e fiambre. Mas depois passei a odiar as faltas de educação de dia. Eu amava os Boas-noites feitos de café com cheiro de canela. E, por fim, eu odeio a minha capacidade de amar a ideia de que as pessoas e coisas não são estanques. Eu continuo furi-bunda. (e tenho medo e espreitar para o meu… vocês sabem).

Não. Não estou zangada por não entrado na Zona Reservada.
Não. Não estou zangada por não ser uma pessoa conhecida, mas apenas e somente por não me lembrar do nome do tal RP – oh querido, lamento, mas também não te conheço de lado nenhum – de forma a escancarar com todas as letras a falta de educação e alertar os leitores mais pacientes que o mundo tem.

Eu pago a canela, alguém me convida para o café? De dia, ou quem sabe, de noite.

1001 Noites

A minha prima vai sair à noite: ponto final
Travessão, paragrafo: a minha Tia não deixa. Diz que a noite é perigosa, que se passam coisas estranhas, “ás vezes morrem pessoas nas discotecas e outras são raptadas”. Às vezes, sim. Outras há que não. E não, mães e tias, já não há (d)aquelas coisas que se passam só à noite. Sim, há pessoas que fazem sexo á tarde e outras mesmo que o fazem de manhã. “Já não há respeito”. Pois não, e é tão bom.


Na altura em que a Gabriela era sucesso – Pitanguy se eu te tirar o chapéu, tiras-me aqui uma coisinha ou outra? – eu tentava fugr do berço para pôr cartuchos no rádio. Quando se via o “Roque Santeiro” o meu Rock era o Astley… Por isso há muito que virei essa Página da Vida e encontrei o meu Paraíso musical.
Fiquei, portanto, a modos que encalacrada, quando a minha tia - prestes a ficar com a carótida perigosamente irrigada -, expulsou a minha imberbe prima da sala tentando, assim, evitar que ela visse uma cena de telenovela imprópria para menores de 18 e para maiores de 60.

A resmungar SMS numa linguagem incompreensível, a minha prima só deu um passo dentro do meu reino nocturno e estagnou (ou na linguagem dela: FDX, a cota paxouxe).
Roupa por todo lado, sapatos em cima da cama, colares e pulseiras nos candeeiros, maquilhagem pelo chão e a Kylie Minogue na vitrola. Não posso garantir, mas julgo que eu própria estaria apenas de monoquini o que é cenário para provocar um choque a qualquer um. Eram as early-hours da minha primeira noite de estragamento da semana e estava num daqueles dia em que a única coisa que assenta é o rabo na cadeira mais escondida do club.
Quilos de duvidas depois saímos muito aprumadas do meio do reboliço, quais Fénix preparadas para as 1001 noites. Mil para mim, a primeira para ela.
“Oh psius, onde é que vocês vão?”
Tia, não sejas flausina, vamos sair. E não é psius, é fenixes renascidas do tufão quarto de vestir.
Acha ela, a minha tia, que a sua primogénita é demasiado nova para sair. Que não é ainda madura, que precisa é de brincar e que até mesmo as cenas da novela são fortes demais. Que à noite se passam coisas estranhas, que há pessoas que morrem e outras que são raptadas à luz do dia. Ou do candeeiro. Ou “do raio que parta que já me estás a deixar nervosa com esta conversa”.
FDX, a cota paxouxe!, mensagei eu à minha prima embonecada.
Não me parece que a noite seja mais perigosa que o dia. De dia também conduzo com as portas do carro travadas. De dia há os mesmos assaltos, são raptadas as mesmas crianças até em hotéis e, sim, há pessoas que fazem sexo. Bastantes até.
“A noite já não é como antigamente”.
Concordo, mas não é necessariamente pelos piores motivos. Pode existir menos saudosismo e mais vaidosismo, menos cocktails e mais bebidas maradas, menos respeito e mais decotes, menos mulheres tímidas e mais engate, menos adultos e mais hordas de adolescentes embrutecidos, mas há sobretudo liberdade para escolher. E há, quer queiramos quer não, uma certa selecção natural dos espaços que frequentamos e mesmo dentro desses, vemos sempre e só o que quisermos ver.

Por isso, e com a balança todinha nas ancas dela, a minha tia está cega. Não viu, ainda, que na turminha de 15 anos da minha prima ela é a única que ainda não saiu, enquanto a conversa típica das amiguinhas é quantos conseguiram aguentar. Copos e namorados e lá se foi a semanada. A minha tia, a ver novelas desde 1977, ainda não percebeu que sair à noite não significa fazer sexo pela primeira, pela segunda ou pela milionésima (primeira) vez. A noite já não é o bicho papão que só traz o mal porque esse, agora, pode muito bem ser o vizinho do segundo-esquerdo ou o amigo do pai que às vezes joga cartas lá em casa. A noite, minhas senhoras, é essencialmente uma festa que, bem vivida e às vezes bem bebida, só se pode transformar numa boa recordação, numa gargalhada especial, naquele episódio que nunca se vai esquecer! (Mesmo porque a falta de luz evita tantas desilusões…)

“Oh psiu, não me venhas com essas tuas filosofias, que a minha filha não se vai perder.”
“Mãe! Não te preocupes que os rapazes que eu conheço só querem namorar com miúdas de 13… São as únicas que são virgens!”
E, posto isto, quais hormonas saltitantes, desatamos a correr pela porta fora, antes que a carótida nos esguichasse o modelito e as fenixes se transformassem em cinza.

Já na rua fizemos uma espécie de Jura-Jura: para o bem e para o mal, nunca mais vamos ver telenovelas! Estávamos nisto até que um carro, cheiinho de cabelos loiros e borbulhas vermelhas, parou ao nosso lado:
“FDX, as cotas paxaxarams!”, e no cristalino som de uma gargalhada que liga gerações guardamos o nosso momento.

Ah e Tia?
À noite todos os gatos são pardos, mas nem todas as gatas são parvas.
E sim, ela ainda é virgem, mas não esperes que dure mais 193 episódios.

sábado, 21 de julho de 2007

Superstar

Invariavelmente, tudo começou numa dessas noites que teimam em não aquecer (Al Gore: o Global Warming é mesmo uma verdade incontinente)
O DJ vagamente reconhecido pela minha retina passou GNR.
”E aos 16 tens o desgosto de vestir como os DJ’s”. E apontou na minha direcção.*



Pensei atirar-lhe directo, sei lá, uma cadeira:
3 - Porque me pareceu que o cinzeiro poderia não lhe acertar.
2 - Tendo em conta o avançado da hora e a minha falta de óculos.
1- E ainda… as minhas in-capacidades desportivas.
0 - Correr, meus queridos-fieis e inteligentes leitores, correr só mesmo para os Saldos o que dá, objectivamente, dois dias de exercício por ano.


Voltei a pensar (o que me acontece muito mais vezes do que correr) se o Reininho e o DJ Neblina não têm razão.
È claro que:
Eu não me visto mal e gostos não se discutem;
Há DJs que se vestem mal. E não, não é o gosto que se discute, mas sim a falta dele.

No entanto e eticamente – hum, hum qual advogada do Diabo paga a vales de gasolineira – têm os Dj’s que se vestir como manequins?
A resposta é também dada pelo Reininho:
Efectivamente, gosto de aparências.
Efectiva e eticamente eu ainda sou do tempo em que os DJ’s não tinham qualquer importância para um club. Um tempo em que as musicalidades eram unânimes e estanques, em que as novidades chegavam a conta-gotas
Vitória. Vitória. Acabou-se a estória.
Elevados ao estatuto de superstars, os deejays são o centro das atenções, o centro da pista, o coração das noites (adoro estes pop-up poético-trashy)
Portanto, dois pontos, a sentença é anunciada.
Se os clientes, para entrarem num espaço, têm de obedecer a um certo status-club, os Dj’s têm de cuidar tanto da imagem como da mala e do material (e ele há para aí cada doença mais esquisita).

Eu, MC, presidente, sócia número 1 e servente de limpeza da Associação Nacional das Mulheres que Gostam de DJ’s Que Tem, no Geral, Bom Ar & São Simpáticos, no Particular delibero:
Fim às t-shirts cabeadas.
Fim às sapatilhas de mola.
Fim à bijutaria barata que oxida ao terceiro disco (deixem isso para mim, sifaxabor).
Fim às tatuagens desbotadas do tempo da Maria-Cachucha.
Fim aos pregos antes, durante e depois das actuações.
Fim à brilhantina.
Fim aos chapéus multicolor.
Fim aos logótipos gigantes.

E por Fim. Fim aos tiques de Superstar. Antes que vos chame o Morrissey. Sim, que aquele “Hang the DJ” não se refere, com certeza, ao Dinner Jacket.




* Na minha companhia estavam alguns Dj’s da nossa praça. Depois de prometer que lhe partia o dedinho apontador, o rapaz já lhe disse a quem se referia. Sortinha: safou-se com uma equimose.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Pasodoble

As novas tecnologias têm destas coisas. Enquanto ripo descaradamente um CD para a minha extensa e ultra-hype livraria iTunes delicio-me ao som de Dimitri from Paris e de um tema que ainda não consegui identificar, e que me remete para os loucos anos 20 (em tudo parecidos com os meus!).


É imediato. Vou buscar os peep toe prateados da ontem à noite – indecentemente largados a 3 milímetros da soleira, tadinhos dos meus queridos – e de repente, ainda que sejam cinco da tarde, a minha sala transforma-se numa pista de dança. Fico com aquela sensação de festa, aquela vontade quase religiosa de fechar os olhos e só sentir o momento. Aquela magia indescritível que começa não sei onde e dá uma vontade incontrolável de… dançar.

Claro que toda esta concentração de actividade física só poderia ter como resultado uma imensa vontade de… comer.
Num solarengo domingo à tarde, junto à praia. Dois casalinhos enamorados, num quase-que-me-dá-vomitos quadrilátero, reprovam a minha aparência ainda noctívaga. Elas mais que eles, pois claro. Que ainda não conheci nenhum Santo que não gostasse de um bom decote e: Bolas! Esqueci-me de tirar os sapatos prateados e o rímel esborratado a lembrar os melhores anos de Courtney Love também não ajuda. Só por isso, vou sentar-me mesmo ao vosso lado, numa mesa tão pertinho que quase consigo pressentir a paz podre do politicamente correcto.

Para mim?
Camarões grelhados e uma cerveja.

Para eles?
Torradas aparadas e meias-de-leite, clarinhas. Depré.

Eles vão para a Serra da Estrela – só gosto da agua e mesmo assim só de segunda a sexta, entre as 12h00 e as 19h00 - passar um fim-de-semana calmo. Estão cansados do trabalho do escritório, do stress do trânsito, das complicações da vida a dois, que hão-de ser três ou quatro num berreiro desalmado.
Por esta altura, entrei em Stereo. Estou definitivamente interessada nos pormenores de um fim-de-semana na Serra dividido por dois casais. Há as despesas, o carro que se vai levar e a comida para o primeiro dia devidamente etiquetada em tupperwares coloridas.
Para mim, pode ser mais uma cerveja que tanta preocupação está a dar-me sede.
E eis senão que, diz ela: “Dançar, eu? Só se beber 3 ou 4 copos”.

Pensei em mim própria depois de 4 cervejas, e achei por bem, abandonar o repasto. Afinal, fiquei com a sensação que a vaca era eu.
Ruminei a frase no caminho para o meu PC a gritar: CRÓNICA – e pensei que não conseguir dançar deve ser das coisas mais tristes da vida. Um sofrimento apenas comparável a só ter um disco riscado da Cher ou a viver toda a vida sem uns Chirstian Louboutin.

Apeteceu-me voltar atrás e dar-lhe uma Lambada!
Ladies, Flow! Se dançarem – mesmo que em frente do espelho sincero lá de casa – metade das preocupações, e alguns papos de celulite, desaparecem. Olé! Ficamos mais bem-dispostas, mais bonitas, mas sexys… Pelo menos até ligarmos a MTV e vermos a Shakira, Shakira com a Beyoncé, Beyoncé.


Voltei mesmo ao lounge, ao som de um Quick Step mental… mas já não encontrei as parelhas dos pés de chumbo. Que Tango!
Mesmo assim, subitamente simpática dos pulinhos de dança (estão a ver como dançar funciona?), espero que consigam fazer do fim-de-semana um verdadeiro Forró, ou uma tourada se a OST for do Escobar.

E já agora, amorosos xupipipitu, tragam-me umas garrafas de água da Serra que a semana é longa, alcohol-free e está mesmo a começar.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Just the Girls

Inesperadamente o CD das Amarguinhas – que é feito de vocês, mulheres, que agora os DJ’s só me passam remisturas pop-chunga das Doce? – apareceu na estante mais barafundiada da história do meu quarto. Meninas, hoje vamos sair! Mas que dia é hoje? Terça? Perfeito, vou só calçar os peep-toe, e espera-me juntinho à janela. Estavam à espera da camisola amarela? Não sejam pindéricos.


Nos últimos anos, dois talvez, habituei-me a ouvir que a culpa da “crise” que se vive na noite é de uma outra noite: a da Mulher:
”Ah, é porque se generalizou!”
”Ah, é porque o ambiente é mau!”
Ah, ah, ah!, respondo eu.
Caso ainda não tenham percebido – uma mulher passa a vida a explicar qualquer coisa a alguém, isso é certo – a Noite da Mulher é altamente producente para casas e clientes.

Há, desde logo, um motivo fulcral para o sucesso destas noites. Elas, nós, vamos sempre e, efectivamente, apostar muito mais na produção. Pensem comigo: como sabemos de antemão que vamos beber à pala a noite toda – ainda que o único bar que nos sirva esteja atolado num lodo inenarrável, ainda que as barmaids desse mesmo bar sejam as mais antipáticas da história da copofonia e, ainda que, tenhamos de estar mais horas na fila do que aquelas que passamos para ir ao Centro de Saúde – é certinho que os trocos que nos sobram não vão pró porquinho-mealheiro (que por esta altura do Campeonato está tão esmiuçados que nem na Passerelle Cibelles desfilava).

Inteligentemente poupados, os euros que gastaríamos a beber vão servir para aumentar a qualidade visual das ditas Noites da Mulher. Fazemos um depósito directo em alguma das mil hipóteses para ficar trendy e sexy ao mesmo preço de duas vodkas limão com groselha. Ou seja, para além de ficarmos ainda mais giras, ajudamos a incrementar a industria têxtil nacional ou outras de países onde os trabalhadores são tão bem pagos quanto: na China, na Ucrânia e até mesmo na Turquia.

Ora o que é que isto significa? Que esta produção patrocinada pelo nosso Club favorito é, obviamente, um isco para o sexo oposto. Elas, nós, vamos para a noite das mulheres porque temos roupa nova – ah! Não me digam que pensavam que até podiam existir motivos mais fortes? – e eles vão, porque nós temos roupa nova para mostrar e ainda não perceberam que, como dizer, pra aí 90% das vezes nos vestimos para a inveja das outras mulheres e não para o babanço dos homens.

Depois, isto na Noite das Mulheres geralmente implica saídas em grupo… com outras mulheres – olha pra eles a arrebitarem a… sobrancelha! - e geralmente isso implica uma certa histeria colectiva que geralmente implica uma grande bebedeira que geralmente implica uma maior capacidade de comunicar…. Mesmo com o rapazinho de meia branca e sensibilidade de um paralelo que nos mandou bocas mais porcas que as tainhas do Douro durante mais de metade da noite.

Na Noite da Mulher ao fim da terceira Oferta no cartão: é tudo lindo. E quando a coisa corre bem, as amigas conseguem amparar-se e acabam a noite de maquilhagem esborratada a chorar pelo sanapismo que deviam ter dado ao ex-namorado, invariavelmente, sacana. Quando corre mal, as amigas conseguem aparar-se num astuto exemplar masculino e provavelmente esborratam a maquilhagem na mesma isto… quando não contribuem para o aumento da taxa da natalidade.

Por isso, Senhores RPs e Promotores cuja criatividade está mais adormecida que a Branca de Neve, há 7 noites por semana para trabalhar… Se uma for da Mulher já sabem que funciona e até já sabem porquê… Em vez de só olharem para os decotes, usem a mioleira e façam como as mulheres: brilhem nas outras 6. Meninas? Vai ser só curtir!

Release Yourself

Para além de todo o aparato que o rodeia, seria absurdo, não dizer que Roger Sanchez tem, provavelmente, uma das vozes mais bonitas da actualidade. E se há uma coisa que eu gosto são timbres.

Por isso para além dos habituais nervos de entrevistar um Top DJ, mal ouvi o primeiro: “-Hello!” a sair das cordas vocais do S-Man, engasguei-me, salivei como o cão do Pavlov a ouvir a campainha que anuncia os REDONs (*) e esqueci-me completamente de todo o que ia -muito inteligentemente, por sinal- perguntar.
Nos 5 segundos que me restavam antes de afundar a minha presunção jornalística, algum fio do meu cérebro –outra presunção!– desligou-se completamente e resolvi admitir que me tinha esquecido de tudo o que tinha, de forma religiosa, preparado para perguntar.

E não é que, para além de uma voz sensual, Roger Sanchez tem uma gargalhada ainda mais cintilante? (Acho que foi nesse momento que o anti-transpirante deixou, também, de funcionar!)
“-That’s the way it shoud be”, atira-me ele pelo canto dos óculos de sol que nunca tira. Pensei, “Damm! porque será que de vez em quando me esqueço que todos os VIP’s, todos os DJ’s, todos os promotores são só pessoas? E Damm! Porque será que teimo em esquecer-me que eles precisam tanto de mim quanto eu deles?”.


Roger Sanchez foi exactamente aquilo que eu esperava de uma conversa fluida, a fugir a todas as regras jornalísticas que aprendi durante 4 anos de Faculdade: bom falante, genialmente simpático, e com muito boa onda… mesmo que eu passasse, em menos de uma pergunta, de carros para roupa, de música para conduzir os Bentley em Ibiza (pronto, esta saiu bem!). Confesso, como tenho entrevistado alguns VIP’s da Portugalandia, estava à espera que um DJ que ganhou um Grammy, que tem um programa que meio-mundo ouve e que vende mais discos que os D’zrt, fosse um tudo ou nada mais difícil.

Mas mais do que tudo isto –mesmo mais do que a voz que ecoa, ainda, nos meus ouvidos– o que marca quando se conhece Roger Sanchez é a calma com que encara todo o sucess, todo o marketing em seu torno. Mais do quer ser Roger Sanchez, ele é o S-Man (qualquer alusão com o Super-Homem e com os sets de 14 horas que faz habitualmente não é coincidência), ele é o Homem de Release Yourself que todas as semanas, como se de um Deus da religião House se tratasse, dita quais são os sucessos do momento e mostra os que hão-de ser. Ele é o Homem que deu a conhecer ao mundo o portuga DJ Grouse (E Roger, obrigada por isso, porque o Grouse é talentoso, é de Beja e é… impagável!)
Sanchez sabe. Sabe que tem um certo Toque de Midas, sabe que tudo o que o que faz se transforma em sucesso. E encara isso com a calma de alguém que esperou 20 anos para editar um primeiro trabalho, com a calma de quem sabe que é um caso único na cena House e com a mesma calma de quem se ri à pergunta: “- É verdade que os teus braços estão no seguro?” (Não, não estão).

Quando se conhece alguém que para nós é um exemplo e essa pessoa corresponde a tudo o que achamos que seria… O que pode acontecer? Ficar tão absolutamente pasmada que se deixa cair o caderninho de notas, que contém metade da nossa vida (Entre CD’s, cartas, Cadernetas do Banco, bilhetes de cinema e a temível lista TO DO), e que se espalha (Ora , pois claro!) por um raio de dois quilómetros no lounge do Hotel mais in do Porto.
“-Oops!” Diz Roger Sanchez.
“-Damm!(devia eu ter respondido) Quem te manda seres quase tão sexy quanto os teus sets?”
Mas Não: Resumi-me a um sorriso acompanhado por uma das minhas frases favoritas:
“- Just… Release Yourself” e saí rapidamente porque o anti-traspirante tinha realmente deixado de funcionar.

E o Óscar vai para…

Acabo de cumprir o meu ritual domingueiro. É um género de esfoliação mental e monetária. Compro, sempre, todas as revistas que encontro. Se possível em línguas que não domine. De todo.
Perguntam se há uma vantagem em não perceber patavina? Só há! O parlapié não me cansa e, como habitual, acabo a olhar pró boneco.
De trapo, é geralmente o estado da alma de qualquer mulher normal depois de folhear estes panfletos de investimento a longo prazo em cremes, roupas e jóias que das duas uma: ou compramos e nunca vamos usar, ou ousamos comprar mas nunca vamos.

Penso sempre: Vá, se fosse ao ginásio. Vá, se não comesse isto e aquilo. Vá: de retro Satanás da perfeição. Fui. Fui ao PC e imprimi em letras garrafais: PHOTOSHOP. Mais barato que os cremes e, acreditem, muito eficaz. Sobretudo quando colado ao espelho em marés-vivas de insegurança provocadas pela proximidade da biquini (este ano dizem-me que é triquini) season. E por falar nisso, BRB: vou só buscar o meu Strawberry Chessecake.

Agora sim, perfeição divina: o meu parlapié estrangeiro, o meu gelado favorito e o meu sofá: tudo (m)eu, tudo (m)eu!
Boa, boa! Palmas para mim que fiz as compras certas! Também tinha de ser, já que a única coisa que tenho (de)lapidada é o cartão de crédito: as maxi-bags continuam na moda. Ele é a Keira, ele é a Kate, ele é a Sienna… E umas páginas mais à frente um instantâneo franzir de sobrolho garante uma ruga até à quinta geração.
Lá estão elas outra vez. Dazzling, nas melhores festas do planeta…com uma clutch mínima na mão. Não há direito. Como é que elas se aguentam? Uma noite inteira, inteirinha, impecáveis, intocáveis e até impermeáveis. A babar-me – qualquer coisa entre o gelado a derreter e o esgar de raiva – voltei ao PC. Abri o meu MSN e disparei a questão essencial para o meu grupo favorito: Sexy Chicas, afinal o que vai na mala quando vamos pra night?
As minhas amigas não são actrizes, eu sei. Mas com elas há sempre filme garantido. E Óscar de principal, que essa coisa de secundários não dá para elas. Foi assim que começou a viagem pelo território inexplorado das pochetes das mulheres portuguesas.

A carteira para a noite tem de ser, definitivamente, pequena. Poupamos os trocos do bengaleiro e ficamos com tudo à mão. Ora, independentemente dos míseros centímetros que possam ter, as ditas têm muito que comportar. E é dado assente, telemóvel, gloss, cartão Multibanco. As 3 coisas não vivem umas sem as outras...Telefone, não vá ele mandar uma mensagem e decidir aparecer; Gloss para dar o toque de ai-nem-estava-nada-a-tua-espera e Multibanco para porra-que-o-boche-é-chato.Fui.
Até aqui achei que as carteiras das minhas Chicas eram perfeitamente normais, logo não condizentes com as personalidades das donas. Resolvi ir mais a fundo nesta questão e enfiar o braço lá dentro.

Ora aí está a verdade escondida (grande filme, by the way). Apesar do tamanho reduzido, a after-party está devidamente contemplada. Lá estavam as pastilhas elásticas, os lenços de papel, um liftof (!!!whatever), preservativos e um golfinho. Estranhei o nocturno amor aos animais e só quando vi a cara de pânico da S. é que percebi a coisa. “Pousa isso”, disse-me ela com ar de cena que dava direito a Óscar. “Então?”, repliquei eu, inocente e parva de todo, “É um porta-chaves! Tão querida”.
-”Anda comigo….
Sabes, M., eu estou farta destas cenas com tipos. Tipos que não sabem o que querem, que nos tratam mal, que galam as outras mesmo à descarada. Tipos que acham que simpatia é disponibilidade, tipos que pensam que uma mulher não pode sair à noite só para dançar. Enfim, o Bambi é o meu amigo especial.”
- ”S., o Bambi é um veado, não um golfinho!”
– ”M., o Bambi é o meu filme favorito, e esta é a minha cena: vibra de 4 maneiras diferentes, é fácil de transportar, nunca adormece e cabe na carteira. O que é que queres mais?”
- “Bem, eu estava de olho no Óscar, mas acho que prefiro uma cena igual à tua.”
- “Ainda por cima também cabe no adereço essencial deste Verão…”
– “Não me digas que também usas com os teus ocasionais toy boys?”
– “Oh M., nas novas wrist-bags!”

Olhei para on espelho nublado do Club e tive a certeza: este vai ser um Verão de filme.

- “E o Óscar, M.?”
– “Ah… esse vai para quem o apanhar.”

Cosplay

De Paula Bobone: Socialíssimo, pagina 253, definição de Réussi: perfeito no seu género.
Cosplay: Sub cultura japonesa cujo objectivo consiste em vestir como as personagens Manga, Anime, Tokusatsu e jogos de vídeo.
Foreplay: Deixamos para outra crónica.


No país à beira-mar plantado, as tradições ainda são o que eram. Noiva que se preze é de branco que se veste, foreplay à parte. Noctívago que mereça o título, é de marca que saí à noite. O objectivo é definido pela mais Social das Tias Tugas. Qual In, qual Fashion, qual Trendy… o que está a dar é ser Réussi, isto é, ser perfeito no seu género. Feminino. Masculino. Assim-assim ou Whatever. Paula Bobone dixit.
Em abono da verdade, é difícil escapar à ditadura da imagem, mesmo na noite, a mais extraordinária e menos considerada das sub culturas mundiais, o Costume Play à portuguesa – servido em elevadas doses ao fim-de-semana – define por excelência que tipo de pessoas és… e o tipo de consideração que mereces.
Há verdades absolutas: um casaco branco com uma camisa preta, neles, com uma calça que aparenta traço de exclusividade vendida a quilo…. Faz logo lembrar o espécimen dentro das quatros linhas. Já qualquer acessório em qualquer cor fosforescente, nelas, pode bem indicar que o corpanzil é fruto de um qualquer descontrole hormonal que não condiz com a idade que o Bilhete de Identidade escarrapacha perante o franzir de olho do Tio atónito.

Mesmo assim o jogo não deixa de ser deliciosamente perverso. O de através do que escolhemos vestir podermos ser quem quer que seja…. Sobretudo à noite… Onde a luz negra insiste em mostrar que, por um despiste momentâneo, vestimos a lingerie branca.
E andamos nós a achar que as calças TK é que estão na moda, olha aí o cabelo a lembrar uma crina, e não te esqueças do chapéu VD. Obsoleto é o mais simpático dos adjectivos para nos classificar. Ainda que o quarto lugar nos coloque nas bocas do mundo e fora do alcance das cabeçadas do Zidane-sem-Réussi.

Sim, que aquele movimento bem que poderia dar um episódio inteirinho de Anime, já que dizem sempre que a ficção se inspira na realidade. Já o contrário é que é novidade. E moda. No país que todos vemos ao regressar a casa, o do sol nascente. Por lá a rapaziada já se deixou de marcas para sair à noite e decidiu que se a vida é um palco, o melhor é sermos mesmo os protagonistas da nossa própria peça.

E é mesmo peça-a-peça que eles se transformam em personagens Manga, Anime, Tokusatsu e saem à noite. Ultra Réussi: Matrix, neles, e lolita gótica, nelas. Em qualquer um dos casos é impossível perceber se as linhas são 4 (ou as que o dinheiro der para comprar) ou se a ninfeta tem realmente idade para usar cinto-de-ligas. A moda chama-se Cosplay (de Costume Play) e transforma qualquer noite aborrecida numa festa-mega-ultra-top. É que em vez de puxar pela imaginação a tentar descobrir de onde terá saído aquela fatiota arregalada, o mais provável é ao fim de 3 minutos já termos visto dois Pokemóns, seis Harry Potter e a horda traumática de personagens do Senhor dos Anéis. Sim, na Nova Zelândia o Cosplay também é moda. Parece que apenas não chegou a Portugal com toda “May the force be with you”. E com muita pena. Eu… já a imaginar históricas e arrepiantes cenas cheias de Padeiras de Aljubarrota, de Dons Afonsos Henriques ou de Antónios Variações em maiô. Ai.

Enquanto não ficamos Tugas-Réussi, fazem-me um favor? Deixem lá os épicos de Foreplay para as 4, paredes, e vamos só ficar com o Cos. Sempre de marca. Evidentemente. Mesmo porque o que importa é sempre deixar os outros de olhos em bico.

VIP

Estou convencida de que, lá bem no fundinho do imaginário de todos os clubbers, existe o desejo intrínseco de um qualquer destes dias pertencer, entrar, subir… à zona VIP. Na versão V.ery I.mportant P.erson e não na versão V.ai-te I.mbora P.orca.
Digo isto assim: a seco. Provavelmente como resultado de uma longa noite regada a um daqueles champagnes que não se vende na loja dos 300. V.ai-te I.mbora P.orcaria. (de ressaca, claro).


A Zona VIP é um território perigoso, quase sempre minado. Há falta de critério definido pela ONU há humanos que tem esse direito e há outros que não, mas a linha (está a valer quanto agora?) é tão fina que muitas vezes não se dá logo por ela.

Tenho de admitir: não fui sempre ultra-gira como sou agora (a modéstia e a agua benta são do melhor que há para o day-after). Longas foram as noites em que o Wilson não me deixava entrar na Industria. Algumas em que o Tiago Pinto Leite me deixou ao frio à porta do River e outras em que percebi longamente a grandeza arquitectónica da fachada do Lux.
Loucas foram as noites em que, efectivamente eles gostaram das aparências, e consegui entrar em espaços para lá de lotados onde o único perfume que se sentia era Eau de sovaco. Um charme.
Invariavelmente, em todos estes locais, havia meia dúzia de gente mais ou menos conhecida que ocupava a zona VIP. Eu chegava a casa amassada, com um odor que se pode definir como um cruzamento manhoso entre chi-charros fumados e bafos resultantes da falta de dentes, invariavelmente, laterais. Os VIPs saíam sempre bem. Secos dos banhos de multidão. Às vezes cristalinos, mas isso é coisa para fornecedor resolver.

Algumas noites, copos e decotes depois dei por mim numa Zona VIP. Ainda estou para perceber o que deu tal direito, mas pelo sim, pelo não resolvi apreciar o momento. Descobri rapidamente que perfeito, perfeito é galar descaradamente a técnica do Dj. Ouvir música é fantástico, mas ver tocar… é outra louça (não admira que na zona VIP geralmente se acabe a noite a partir tudo). Depois, descobri que é giro ser bem tratado. Para variar! Há alguém que responde à nossa sede com um sorriso e até há alguém que pergunta se estamos bem. Em relação aos que estão na pista, aquela massa disforme que pagou pela entrada, que demora horas para conseguir um copo e que encontra um WC mais ordinário que o livro da Carolina Salgado…. Temos pena. (não me chamem já P.orca, estou a curtir os meus 15 minutos de fama e o meu WC tem papel: nhe, nhe, nhe, nhe, nhé!).

Como não há bela sem mestre aprendi rapidamente que para os tímidos – sim, como eu – a Zona VIP não é um espaço assim tão apetecível. As pessoas olham, fazem comentários e tenho a certeza que aquele risinho sarcástico tinha a ver com a minha roupa. Ou, assertivamente, com a falta dela. Demoro uns minutos e uns flutes a recompor a auto-estima. Vejo a música a tocar, tenho espaço para dançar, dirijo-me às duas bimbas com falta de dentuça à esquerda e atiro-lhes a frase letal, aquela que é capaz de fazer qualquer mulher espumar de ódio:
- “Olha filha, sabes qual é vantagem de estar na Zona VIP? É que não estrago os sapatos!!”
E depois desta – crónica – vou inscrever-me na esgrima. Que autodefesa nunca é demais e estou mesmo a precisar de argumentos para comprar uns rasos.




Nota da cronista: Obrigada aos meus amigos VIPS, mais ou menos e nada disso por terem recolhido os meus amados sapatos rosa chique depois de eu me transformar na nova versão da Sandie Shaw:. Like a puppet on a string…..!

sábado, 31 de março de 2007

Mitos Urbanos

Ao melhor estilo de um mito urbano um destes dias li, numa revista ou jornal qualquer, oferecido por um amigo de um amigo, um artigo que apresentava – nuas e cruas (com certeza mais nuas) – as opiniões dos homens sobre o que as mulheres vestem.

Já tinha percebido que para eles está na moda essa coisa do mtetrosexual mas que sejam, agora, capazes de olhar para além do próprio umbigo pareceu-me sureal.O meu inconsciente lá me ia dizendo: “olhe que não, olhe que não…”, mas ao fim de 3 linhas percebi que tudo continua exactamente como era. Os homens ainda não percebem nada de roupa.
Nem de a vestir e muito menos de a despir (a habilidade para colchetes não é, definitivamente, genética). Menos ainda, percebem de mulheres.

Garantia o dito artigo que Deusas inspiradoras para qualquer criatura de bom gosto, como Audrey Hepburn, não são atraentes para a maioria dos homens. Eles não apreciam a saia travada, os pumps intermináveis e a classe no geral. Basicamente, os homens gostam de um bom decote, de uma bela mini-saia e, de preferência, de uns compensados em cristal barato a lembrar a striper da despedida de solteiro do primo Zé Manel padeiro.

Tudo bem, primaços, se a mulher não for a vossa, claro. Porque aí, comparsas das costas ao léu, a história já não é tão carnal. Se a mulher for a vossa, o melhor mesmo é que se inspire na tal da Andreia Hipsdontlie antes de sair de casa.
É a velha história do olha para o que digo, não olhes para o que eu faço. Em teoria, todas as mulheres podem mostrar o que têm de melhor. Na prática, todas, menos a legitima de cada metrosexual de nomenclatura, para não dizer mesmo, de cavalgadura.Remoí algum tempo esta dicotomia masculina, sem resultados. Afinal, pensava a minha mente ingenuamente angustiada, se têm mulheres giras… o natural seria querer mostra-las!

Nada disso minhas senhoras, que resperitinho-é-muito-bonito-e-eu-gosto. Não é que eles estejam legitimamente preocupados com a cambada de abutres que nos podem cair no regaço virginal (tá bonito! Digam lá?).

Na verdade e, como sempre, eles estão apenas preocupados com eles próprios, obvio! Não sei se a ordem mental será exactamente esta porque, felizmente, não conheço tão intrinsecamente a cabeça dos homens (há coisas que me interessam e outras que, simplesmente, não) mas julgo que a massa sebosa, digo, cinzenta deve conter códigos base como:
-“Os meus amigos vão dizer que ando com uma porca!”
– “Os meus amigos vão pensar que ela me mete os cornos… Afinal o que faria uma tipa como esta com um bacano como eu?”
– “E agora? Tenho de estar de olho nesta beca!!! Como é que vou galar a filha do Joaquim do talho? Tou tramado!!!!”

Ser macho é lixado! E pensar que esta foi a única evolução que exigiram aos homens nos últimos tempos… de broncosauros para metrosauros e mesmo assim… parece que continuam todos no paleolítico urbano-opressivo.

Já nós, as mulheres sapiens, que inteligentes somos sabemos muito bem como os fazer acreditar que sim-querido-claro-tu-e-que-mandas. E eles, há seculos, acreditam. Até acreditam que há crocodilos nos esgotos, acreditam que a Pamela Anderson não tem silicone e acreditam que o Elvis foi raptado e casou com a Marylin nas Maurícias.

Acreditam que continuam a ser o sexo forte, que se podem impor ora pela força, ora pela violência, acreditam que temos de ser magras para sermos felizes, acreditam que, depois de magras, só somos felizes acompanhadas e acreditam que quando saímos à noite de mini-saia ou de decote somos uma largadas à caça de homem… Enfim: Mitos urbanos… Iguaizinhos a encontrar um metrosexual na nocturna portugalândia.

Ah, só para esclarecer, GOLF não são as inicias de: Gentlemen Only, Ladies Forbidden… e se não sabem se conseguem chegar ao buraco, o melhor mesmo é não darem a tacada.

Meter a Cunha

No Dia Internacional da Arrumação Tendo Em Vista o Bem-estar Caseiro, tive direito a duas conclusões:A minha colecção de sapatos cresceu muito mais do que os meus pés podem sequer palmilhar e 90% das minhas crónicas falam deles.Já era tempo de dedicar uma crónica aos sapatos.

Geralmente, é uma coisa que os homens não entendem. Que muitas mulheres consigam gostar até, eventualmente, mais de sapatos do que deles. Dos homens no geral e de algum sacana que não nos osculou decentemente, em particular.A minha patologia é específica: Quanto mais conheço os homens, mais gosto de sapatos.A explicação é uma mera questão de centímetros, e sou rapariga para dar com um tacão na língua dos que dizem que tamanho não importa.Pelo menos nos sapatos um centímetro a mais – ou a menos! – Faz rapidamente a diferença entre vulgar e elegante.

Tenho para mim que nos homens também.A imensa vantagem dos sapatos é que, para além de serem cúmplices em todas as situações, conferem poder. P-O-D-E-R. Força. Status. Confiança. Uns peep-toe Manolo Blahnik transformam qualquer mulher na mais poderosa das Barbarellas. Na mais carnal das deusas (definitivamente, tenho de parar de ler a Maria!)Sapatos são carácter. E só de ter escrito isto (e isto e a tal coisa de ler a Maria) já me sinto muito melhor em relação aos 73 pares que me enchem as prateleiras e que emigraram já para esse território empoeirado denominado: Por baixo da cama.

Quando de trata de sair à noite, acreditem, as mulheres só admitem estar no primeiro andar. Temos de concordar: não só ficamos mais sexy, como mais elegantes, como Às quatro da manhã já não conseguimos dançar.Mas agora vocês, machos que enrolam as meias dentro dos sapatos para parecem mais altos, agora vocês finalmente conhecem as razões femininas e não, não somos nem Sado-masô, nem temos tendência para Gheishas.
Somos, tão somente, incapazes de abdicar do status de femme fatale, do ar de princesa, da elegância de Grace Kelly que vive um pouco dentro de nós (mas abdicamos da parte da morte trágica, ok?)

Assim, rapaziada noctívaga com reminiscências cavalheirescas, quando as vossas namoradas, amigas, esposas, amantes ou blá-blá-blás começarem a cambalear pensem em que centímetros podem elas estar a precisar mais… Peguem nelas ao colo com carinho, tirem-lhes os sapatos (que devem guardar com a própria vida) e à falta de charme ou mioleira pensante pode ser que este gesto vos faça meter a cunha e levar para casa uma verdadeira princesa.

A palmadinha

Podem fechar o sorriso malandro, ao jeito de “é isto é que o meu povo gosta” porque a palmadinha aqui é outra. Nas costas. A da amizade. Ainda que colorida é sempre bem mais negra do parece. Afinal, vamos fazer amigos entre os animais. Sociais, pois claro. Mas quando chegar à altura certa, fazemos como os outros: ao abandono. Que mais não merece quem cresce mais do que a conta. Parece-me uma heresia achar que andaram às palmadas – pese embora tenha sido a de D. Afonso Henriques à mãe que garantiu a portugalidade- mas é verdade é que considero que Almeida Garrett bem que manda uma palmada a isto de ser português, desculpem, portugesinho, no seu famoso Frei Luís De Sousa. Passo a transcrever: “Romeiro, Quem sois vós?”“Ninguém”

Não deixa de ser engraçado que uma obra escrita em 1844 se possa adequar tão bem às noites do séc. XXI. Garrett bem que foi considerado obsceno, já eu acho simplesmente que é falta de educação. É de uma tremenda hipocrisia, romeiros das noites do jardim à beira mar plantado, que se desfaçam em sorrisos durante a noite e depois… Era uma vez, que-é-de-dia-e-agora-não-te-conheço-de-lado-nenhum.No stress. Nem quero ser vossa amiga: Mesmo.É um um paradoxo engraçado, um modo de estar intrínseco da cultura portuguesa este:“Vamos ser amigos”,este: “venha daí a palmadinha” – nas costas -, este: vamos beber um Shot que “ó tu estás aqui!!”( enquanto se aponta efusivamente para o coração… A maior parte das vezes colocado do lado errado).

E depois dos copos: Puff! Passa a magia. Afinal descobrimos que aquele amigo trendy, super-fashion, bué de in que só compra roupa em lojas tão exclusivas que nem diz o nome também vai ao Shopping ao domingo à noite.

De fato de treino: “O grande sacana que não merece viver! E eu que bebi um copo com ele ontem, convencido de que era alguém IN!”Pior… Damos de caras com ele na barraquinha da feira onde se compra roupa de marca mais falsa que os sorrisos que nos vendem à noite: “Ahn? Hum? Não há máquina fotográfica por perto? Bah! Que se lixe… Vou fazer de conta que não conheço… até à próxima noite que em ficar bem cumprimentar”.Não sei se o Almeida Garrett usaria, mas a avaliar pela época em que viveu a luva branca seria uma acessório indispensável. É como as palmadas nas costas.
E a valente estalada que o Afonso Henriques deu à mãezinha: Ficaram no nosso imaginário até hoje. Eu também imaginava. Imaginava que independentemente do status nocturno, os amigos abririam sempre um sorriso (Um Pan Am também vale ) Nada disso: È mais: “Luzes, Câmara… Quem são?” A resposta é só uma, evidente, e muito antiguinha: “Ninguém”. Porque são esses ninguéns romeiros de uma feira de vaidades onde amizade sem interesses é conceito obsceno que dão lucro aos Clubs e enchem as noites. De palmas, claro. Pelo bom trabalho que DJ’s, animadores, Promoters e Bartenders sabem fazer.

Funk Me I’m Famous

Não sei se terei perdão por ter esgotado a Silly Season sem passar pelo menos uma noite quente ao som desse tal de Funk Brasileiro. Dizem-me que é a música da moda e fiz por estar atenta às playlists popozudas e às polémicas inerentes ao um estilo que muito consideram não o ter. Estilo. “Ah e as letras e tal”. E a má-língua a torna-lo Famous.

E, digo eu, mas afinal qual a diferença para o Hip Hop? Afinal, não se trata sempre de gajas boas, mesmo boas, daquelas boas, mas mesmo, boas, boas, mesmo boas? Já alguém ouviu as letras do Eminem ou do T Pain? Bling, Bling! E depois o conceito de Silly Season é esse mesmo. À falta de Hamptons e consequentes histórias de faca e alguidar o Funk Brasileiro assenta que nem uma tanga. Ou um fio dental. Se calhar o fio dental até podia estar na prateleira “Dança Novas Tendências”, tal é a confusão. Acontece numa conhecida cadeia internacional que recentemente se instalou em Gaia.
Lá estavam eles, os funcionários minute maid sem qualquer explicação que justificasse a presença de Marvin Gaye e Ray Charles na prateleira das novas tendências dançáveis. Está bem que se recuperem clássicos do glitter, está bem que o prateado esteja na moda, que o Velvet deixe finalmente de ser underground para ser obrigação e até está bem que Madonna sample os Abba sem dó nem piedade. Agora que respondam que o Funk e a Soul são novas tendências no panorama musical… F*** Me, I’m Famous.

O ar condicionado faz mal aos miolos.Cozidos, os meus pés, à saída de uma das festas míticas de Ibiza e que finalmente chegou ao Norte: F*** me, I’m Famous. Uma criação simples de Cathy e David Guetta que se tornou num êxito de Paris a Miami, com direito a edição de perfume pelo meio. Testado e aprovado, as ideias mais simples são realmente as mais geniais. Funk me, porque é que ninguém pensou nisto antes?Assiste-se ao (re)surgimento de uma House Music elegante. Alguma coisa como Style Meets Music na presença mediática do casal Guetta na cabine de um qualquer club. Associação feita à moda que promete ser bitola para este Inverno.

O regresso minimalista de peças base dos anos 80 com apontamentos nos materiais, cortes e maquilhagem. E a ideia-fenómeno de uma marca de jeans que decidiu criar um modelo com um bolso especial para o transporte do I Pod. Finalmente o ménage perfeito: Tecnologia, Body e Soul ao serviço da House Music Em todo e qualquer lugar. Bling, Funk Brasileiro. Bling, Hip Hop. Bang, Bang I shot you down. E, tenho de admitir, adoro leggings.

Histerias

Histerias.

Os meus sábados à tarde estão a mudar. Dantes ia para as compras e, geralmente, ficava histérica. Agora vou para o Curso e fico, absolutamente estérica. Definitivamente a partir dos 25: a vida não é igual.Eu tinha uma vaga ideia. Que a capacidade do corpo reciclar excessos abrandava ao ritmo escasso dos ecopontos urbanos a partir dos 25. È também a idade em que percebemos melhor o que queremos. Ser ou não ser, eis a questão.Eu nunca quis ir pela música. Limitava-me a gostar dela, sem nunca ter percebido que amar sem entender… Não é possível. Para mim, os melhores pratos eram de Spaghetti Nero. Embora a minha mãe referisse várias vezes a Vista Alegre. A cabine só vista, realmente. E alegremente, de fora. Botões, os dos meus casacos. E discos, os da minha estante. Phones, os de levar para a praia. Agulha, a das lições de tricot. E mala, para viajar.

Big Bang! E a ordem do universo altera-se.Botões, os da mesa. E discos, os novos, os velhos, os clássicos. Phones, os profissionais. Agulha, a do vinil. E mala, de DJ.Sábado à tarde. Hora de curso para candidato a cabine, critica e até… aplausos. Um DVD sobre a história da música, DJ’s consagrados, mesas, CD’s, loops e o Final Scratch a inspirar a tirada do mestre perante os alunos desconfiados da ligação entre um computador e um vinil: “os discos têm estrias, não sabiam? Passem a mão e sintam”.Olhei à minha volta. Única rapariga no meio de uma turma de homens. Estrias. Disse, ele. Tenho as minhas contadas, como todas as mulheres. E o teacher, teacher apela que lhes toquem, que as sintam a vibrar para perceberem a alma da música.

A minha ficou riscada. As mulheres lutam uma vida inteira contra um espelho sem piedade e de repente há uma geração inteira a aprender a sentir estrias. Acudam-me que quero gritar.
Pelo menos, se posso ser comparada a um disco, alguém me deixa ser o Let The Music Play, do mítico Barry White? É que esse é o meu lema.Depois do primeiro banho desta nova e absurda realidade, faço-me à estrada. It’s a mens World. E eu não quero misturas. Mas eles não resistem. A forma que encontram para mostrarem que dentro da cabine são os homens que mandam… São os constantes bitaites à técnica, à escolha musical, à sequência dos discos… Estranho que do decote e dos tacões ninguém fale, sendo que essas seriam duas armas de arremesso bem mais perigosas do que qualquer CD ou vinil que a mala profissional comporte.Comportem-se DJ’s. Enquanto a China continuar a controlar a taxa de natalidade, há espaço para todos.

De olhos em bico? Só mesmo pela falta de luz nas cabines… Não sei como é que não há mais DJ’s pitosgas! Ah, esperem… provavelmente porque olham só para o umbigo e se esquecem de quem quer está à sua frente… Tina Charles, sem misturas, levas-me a dançar?