sábado, 20 de junho de 2009

Um género de… Cinderela

Não gosto de solha frita. Não gosto de água fria e não gosto de despedidas.
Não gosto do fim de noite, não gosto do fim de festa e não gosto dos primeiros raios de sol.
Não gosto quando me doem os pés. Não gosto de ter borbulhas a irromper por baixo da maquilhagem e não gosto de furar as meias naquela noite mais especial.
Não gosto de beber sem palha. Não gosto de shots pretos e não gosto de porteiros emproados.

Posto este meu desabafo, passo a papel uma atitude usual que tanto inquieta todos os meus amigos, como os conhecidos e inclusive os que não me gramam. Eu não gosto de despedidas (e de nenhuma das outras coisas da extensa lista acima exposta e que por motivos óbvios não vou replicar, pois não é minha intenção ser o vosso sonífero de serviço). Aliás, eu odeio despedidas de todo o tipo. Eu nunca digo adeus. Eu sou a miúda ao Até já, do Até logo.

Quando estou realmente no meu pior sou a do “Vou só ao WC”, “Embora, eu? Vou pousar a mala ao carro!” ou a melhor de todas: “Só um segundo que eu vou trocar para uns sapatos mais baixinhos” (como se isso existisse nos meus ensambles nocturnos).
Chama-se a isto sair à francesa e à muito boa gente que não gosta. Eu também não acho especialmente elegante, mas sempre é melhor que sair à francesa com uma tolada à Zidane, certo?

Eu não gosto mesmo de dizer adeus, em nada na minha vida. Isso explica o caos do meu armário, os meus 107 pares de sapatos e alguma outra tralha que não consigo sequer identificar a olho nu, mas à qual não consigo dizer adeus, já eras.
Sou assumidamente vintage (e nesta fase não compro nada que custe mais de 20 euros, também) o que me faz querer guardar as coisas mais antigas, como as chegadas, e não as partidas.

Não suporto ter de me despedir de todos os que gosto, adoro e amo (e de todas as que gosto, adoro e amo igualmente), sem me dar um ataque de melancolia tal que acabo só por beber mais um e mais cinco e, aí sim, ir-me embora.
Quando me despeço acontecem-me sempre coisas más: já estive a tentar falar para uma gaivota (mas a desnaturada não me respondeu!); já miei para gatos de variadas espécies e cores e ultimamente até tenho tentado parar na auto-estrada para fazer xixi de pé (e paro mesmo, mas não me parece um gesto natural além do que aquela ideia das pingas… em frente camaradas)!

O que diria o meu psicólogo se lesse isto? Nada, porque não tenho. Obviamente. Só não gosto de despedidas. Nem da piada da Cinderela que eu já perdi brincos e colares, roupa interior (ainda vá!), o cartão multibanco e até o perfume, mas se há coisa que nunca perderei será um sapato.

Por isso, na próxima que me virem sair á francesa não levem a mal. Saibam que estamos todos a evitar uma grande cena que faria rir qualquer nacionalidade. Eu sou assim, desaparecer é como chegar sempre atrasada: faz parte do meu charme natural, da minha aura de mistério, da minha (deixem-me pensar) dose de estupidez natural que faz com que os meus amigos já nem comentem, os conhecidos ainda perguntem e os que me odeiam rejubilem. Como vêem sou democrática, há um pedaço das minhas atitudes para todos os gostos.

Entretanto, lembrei-me agora, vou ali só trocar de sapatos e volto já, já.