sábado, 31 de março de 2007

Mitos Urbanos

Ao melhor estilo de um mito urbano um destes dias li, numa revista ou jornal qualquer, oferecido por um amigo de um amigo, um artigo que apresentava – nuas e cruas (com certeza mais nuas) – as opiniões dos homens sobre o que as mulheres vestem.

Já tinha percebido que para eles está na moda essa coisa do mtetrosexual mas que sejam, agora, capazes de olhar para além do próprio umbigo pareceu-me sureal.O meu inconsciente lá me ia dizendo: “olhe que não, olhe que não…”, mas ao fim de 3 linhas percebi que tudo continua exactamente como era. Os homens ainda não percebem nada de roupa.
Nem de a vestir e muito menos de a despir (a habilidade para colchetes não é, definitivamente, genética). Menos ainda, percebem de mulheres.

Garantia o dito artigo que Deusas inspiradoras para qualquer criatura de bom gosto, como Audrey Hepburn, não são atraentes para a maioria dos homens. Eles não apreciam a saia travada, os pumps intermináveis e a classe no geral. Basicamente, os homens gostam de um bom decote, de uma bela mini-saia e, de preferência, de uns compensados em cristal barato a lembrar a striper da despedida de solteiro do primo Zé Manel padeiro.

Tudo bem, primaços, se a mulher não for a vossa, claro. Porque aí, comparsas das costas ao léu, a história já não é tão carnal. Se a mulher for a vossa, o melhor mesmo é que se inspire na tal da Andreia Hipsdontlie antes de sair de casa.
É a velha história do olha para o que digo, não olhes para o que eu faço. Em teoria, todas as mulheres podem mostrar o que têm de melhor. Na prática, todas, menos a legitima de cada metrosexual de nomenclatura, para não dizer mesmo, de cavalgadura.Remoí algum tempo esta dicotomia masculina, sem resultados. Afinal, pensava a minha mente ingenuamente angustiada, se têm mulheres giras… o natural seria querer mostra-las!

Nada disso minhas senhoras, que resperitinho-é-muito-bonito-e-eu-gosto. Não é que eles estejam legitimamente preocupados com a cambada de abutres que nos podem cair no regaço virginal (tá bonito! Digam lá?).

Na verdade e, como sempre, eles estão apenas preocupados com eles próprios, obvio! Não sei se a ordem mental será exactamente esta porque, felizmente, não conheço tão intrinsecamente a cabeça dos homens (há coisas que me interessam e outras que, simplesmente, não) mas julgo que a massa sebosa, digo, cinzenta deve conter códigos base como:
-“Os meus amigos vão dizer que ando com uma porca!”
– “Os meus amigos vão pensar que ela me mete os cornos… Afinal o que faria uma tipa como esta com um bacano como eu?”
– “E agora? Tenho de estar de olho nesta beca!!! Como é que vou galar a filha do Joaquim do talho? Tou tramado!!!!”

Ser macho é lixado! E pensar que esta foi a única evolução que exigiram aos homens nos últimos tempos… de broncosauros para metrosauros e mesmo assim… parece que continuam todos no paleolítico urbano-opressivo.

Já nós, as mulheres sapiens, que inteligentes somos sabemos muito bem como os fazer acreditar que sim-querido-claro-tu-e-que-mandas. E eles, há seculos, acreditam. Até acreditam que há crocodilos nos esgotos, acreditam que a Pamela Anderson não tem silicone e acreditam que o Elvis foi raptado e casou com a Marylin nas Maurícias.

Acreditam que continuam a ser o sexo forte, que se podem impor ora pela força, ora pela violência, acreditam que temos de ser magras para sermos felizes, acreditam que, depois de magras, só somos felizes acompanhadas e acreditam que quando saímos à noite de mini-saia ou de decote somos uma largadas à caça de homem… Enfim: Mitos urbanos… Iguaizinhos a encontrar um metrosexual na nocturna portugalândia.

Ah, só para esclarecer, GOLF não são as inicias de: Gentlemen Only, Ladies Forbidden… e se não sabem se conseguem chegar ao buraco, o melhor mesmo é não darem a tacada.

Meter a Cunha

No Dia Internacional da Arrumação Tendo Em Vista o Bem-estar Caseiro, tive direito a duas conclusões:A minha colecção de sapatos cresceu muito mais do que os meus pés podem sequer palmilhar e 90% das minhas crónicas falam deles.Já era tempo de dedicar uma crónica aos sapatos.

Geralmente, é uma coisa que os homens não entendem. Que muitas mulheres consigam gostar até, eventualmente, mais de sapatos do que deles. Dos homens no geral e de algum sacana que não nos osculou decentemente, em particular.A minha patologia é específica: Quanto mais conheço os homens, mais gosto de sapatos.A explicação é uma mera questão de centímetros, e sou rapariga para dar com um tacão na língua dos que dizem que tamanho não importa.Pelo menos nos sapatos um centímetro a mais – ou a menos! – Faz rapidamente a diferença entre vulgar e elegante.

Tenho para mim que nos homens também.A imensa vantagem dos sapatos é que, para além de serem cúmplices em todas as situações, conferem poder. P-O-D-E-R. Força. Status. Confiança. Uns peep-toe Manolo Blahnik transformam qualquer mulher na mais poderosa das Barbarellas. Na mais carnal das deusas (definitivamente, tenho de parar de ler a Maria!)Sapatos são carácter. E só de ter escrito isto (e isto e a tal coisa de ler a Maria) já me sinto muito melhor em relação aos 73 pares que me enchem as prateleiras e que emigraram já para esse território empoeirado denominado: Por baixo da cama.

Quando de trata de sair à noite, acreditem, as mulheres só admitem estar no primeiro andar. Temos de concordar: não só ficamos mais sexy, como mais elegantes, como Às quatro da manhã já não conseguimos dançar.Mas agora vocês, machos que enrolam as meias dentro dos sapatos para parecem mais altos, agora vocês finalmente conhecem as razões femininas e não, não somos nem Sado-masô, nem temos tendência para Gheishas.
Somos, tão somente, incapazes de abdicar do status de femme fatale, do ar de princesa, da elegância de Grace Kelly que vive um pouco dentro de nós (mas abdicamos da parte da morte trágica, ok?)

Assim, rapaziada noctívaga com reminiscências cavalheirescas, quando as vossas namoradas, amigas, esposas, amantes ou blá-blá-blás começarem a cambalear pensem em que centímetros podem elas estar a precisar mais… Peguem nelas ao colo com carinho, tirem-lhes os sapatos (que devem guardar com a própria vida) e à falta de charme ou mioleira pensante pode ser que este gesto vos faça meter a cunha e levar para casa uma verdadeira princesa.

A palmadinha

Podem fechar o sorriso malandro, ao jeito de “é isto é que o meu povo gosta” porque a palmadinha aqui é outra. Nas costas. A da amizade. Ainda que colorida é sempre bem mais negra do parece. Afinal, vamos fazer amigos entre os animais. Sociais, pois claro. Mas quando chegar à altura certa, fazemos como os outros: ao abandono. Que mais não merece quem cresce mais do que a conta. Parece-me uma heresia achar que andaram às palmadas – pese embora tenha sido a de D. Afonso Henriques à mãe que garantiu a portugalidade- mas é verdade é que considero que Almeida Garrett bem que manda uma palmada a isto de ser português, desculpem, portugesinho, no seu famoso Frei Luís De Sousa. Passo a transcrever: “Romeiro, Quem sois vós?”“Ninguém”

Não deixa de ser engraçado que uma obra escrita em 1844 se possa adequar tão bem às noites do séc. XXI. Garrett bem que foi considerado obsceno, já eu acho simplesmente que é falta de educação. É de uma tremenda hipocrisia, romeiros das noites do jardim à beira mar plantado, que se desfaçam em sorrisos durante a noite e depois… Era uma vez, que-é-de-dia-e-agora-não-te-conheço-de-lado-nenhum.No stress. Nem quero ser vossa amiga: Mesmo.É um um paradoxo engraçado, um modo de estar intrínseco da cultura portuguesa este:“Vamos ser amigos”,este: “venha daí a palmadinha” – nas costas -, este: vamos beber um Shot que “ó tu estás aqui!!”( enquanto se aponta efusivamente para o coração… A maior parte das vezes colocado do lado errado).

E depois dos copos: Puff! Passa a magia. Afinal descobrimos que aquele amigo trendy, super-fashion, bué de in que só compra roupa em lojas tão exclusivas que nem diz o nome também vai ao Shopping ao domingo à noite.

De fato de treino: “O grande sacana que não merece viver! E eu que bebi um copo com ele ontem, convencido de que era alguém IN!”Pior… Damos de caras com ele na barraquinha da feira onde se compra roupa de marca mais falsa que os sorrisos que nos vendem à noite: “Ahn? Hum? Não há máquina fotográfica por perto? Bah! Que se lixe… Vou fazer de conta que não conheço… até à próxima noite que em ficar bem cumprimentar”.Não sei se o Almeida Garrett usaria, mas a avaliar pela época em que viveu a luva branca seria uma acessório indispensável. É como as palmadas nas costas.
E a valente estalada que o Afonso Henriques deu à mãezinha: Ficaram no nosso imaginário até hoje. Eu também imaginava. Imaginava que independentemente do status nocturno, os amigos abririam sempre um sorriso (Um Pan Am também vale ) Nada disso: È mais: “Luzes, Câmara… Quem são?” A resposta é só uma, evidente, e muito antiguinha: “Ninguém”. Porque são esses ninguéns romeiros de uma feira de vaidades onde amizade sem interesses é conceito obsceno que dão lucro aos Clubs e enchem as noites. De palmas, claro. Pelo bom trabalho que DJ’s, animadores, Promoters e Bartenders sabem fazer.

Funk Me I’m Famous

Não sei se terei perdão por ter esgotado a Silly Season sem passar pelo menos uma noite quente ao som desse tal de Funk Brasileiro. Dizem-me que é a música da moda e fiz por estar atenta às playlists popozudas e às polémicas inerentes ao um estilo que muito consideram não o ter. Estilo. “Ah e as letras e tal”. E a má-língua a torna-lo Famous.

E, digo eu, mas afinal qual a diferença para o Hip Hop? Afinal, não se trata sempre de gajas boas, mesmo boas, daquelas boas, mas mesmo, boas, boas, mesmo boas? Já alguém ouviu as letras do Eminem ou do T Pain? Bling, Bling! E depois o conceito de Silly Season é esse mesmo. À falta de Hamptons e consequentes histórias de faca e alguidar o Funk Brasileiro assenta que nem uma tanga. Ou um fio dental. Se calhar o fio dental até podia estar na prateleira “Dança Novas Tendências”, tal é a confusão. Acontece numa conhecida cadeia internacional que recentemente se instalou em Gaia.
Lá estavam eles, os funcionários minute maid sem qualquer explicação que justificasse a presença de Marvin Gaye e Ray Charles na prateleira das novas tendências dançáveis. Está bem que se recuperem clássicos do glitter, está bem que o prateado esteja na moda, que o Velvet deixe finalmente de ser underground para ser obrigação e até está bem que Madonna sample os Abba sem dó nem piedade. Agora que respondam que o Funk e a Soul são novas tendências no panorama musical… F*** Me, I’m Famous.

O ar condicionado faz mal aos miolos.Cozidos, os meus pés, à saída de uma das festas míticas de Ibiza e que finalmente chegou ao Norte: F*** me, I’m Famous. Uma criação simples de Cathy e David Guetta que se tornou num êxito de Paris a Miami, com direito a edição de perfume pelo meio. Testado e aprovado, as ideias mais simples são realmente as mais geniais. Funk me, porque é que ninguém pensou nisto antes?Assiste-se ao (re)surgimento de uma House Music elegante. Alguma coisa como Style Meets Music na presença mediática do casal Guetta na cabine de um qualquer club. Associação feita à moda que promete ser bitola para este Inverno.

O regresso minimalista de peças base dos anos 80 com apontamentos nos materiais, cortes e maquilhagem. E a ideia-fenómeno de uma marca de jeans que decidiu criar um modelo com um bolso especial para o transporte do I Pod. Finalmente o ménage perfeito: Tecnologia, Body e Soul ao serviço da House Music Em todo e qualquer lugar. Bling, Funk Brasileiro. Bling, Hip Hop. Bang, Bang I shot you down. E, tenho de admitir, adoro leggings.

Histerias

Histerias.

Os meus sábados à tarde estão a mudar. Dantes ia para as compras e, geralmente, ficava histérica. Agora vou para o Curso e fico, absolutamente estérica. Definitivamente a partir dos 25: a vida não é igual.Eu tinha uma vaga ideia. Que a capacidade do corpo reciclar excessos abrandava ao ritmo escasso dos ecopontos urbanos a partir dos 25. È também a idade em que percebemos melhor o que queremos. Ser ou não ser, eis a questão.Eu nunca quis ir pela música. Limitava-me a gostar dela, sem nunca ter percebido que amar sem entender… Não é possível. Para mim, os melhores pratos eram de Spaghetti Nero. Embora a minha mãe referisse várias vezes a Vista Alegre. A cabine só vista, realmente. E alegremente, de fora. Botões, os dos meus casacos. E discos, os da minha estante. Phones, os de levar para a praia. Agulha, a das lições de tricot. E mala, para viajar.

Big Bang! E a ordem do universo altera-se.Botões, os da mesa. E discos, os novos, os velhos, os clássicos. Phones, os profissionais. Agulha, a do vinil. E mala, de DJ.Sábado à tarde. Hora de curso para candidato a cabine, critica e até… aplausos. Um DVD sobre a história da música, DJ’s consagrados, mesas, CD’s, loops e o Final Scratch a inspirar a tirada do mestre perante os alunos desconfiados da ligação entre um computador e um vinil: “os discos têm estrias, não sabiam? Passem a mão e sintam”.Olhei à minha volta. Única rapariga no meio de uma turma de homens. Estrias. Disse, ele. Tenho as minhas contadas, como todas as mulheres. E o teacher, teacher apela que lhes toquem, que as sintam a vibrar para perceberem a alma da música.

A minha ficou riscada. As mulheres lutam uma vida inteira contra um espelho sem piedade e de repente há uma geração inteira a aprender a sentir estrias. Acudam-me que quero gritar.
Pelo menos, se posso ser comparada a um disco, alguém me deixa ser o Let The Music Play, do mítico Barry White? É que esse é o meu lema.Depois do primeiro banho desta nova e absurda realidade, faço-me à estrada. It’s a mens World. E eu não quero misturas. Mas eles não resistem. A forma que encontram para mostrarem que dentro da cabine são os homens que mandam… São os constantes bitaites à técnica, à escolha musical, à sequência dos discos… Estranho que do decote e dos tacões ninguém fale, sendo que essas seriam duas armas de arremesso bem mais perigosas do que qualquer CD ou vinil que a mala profissional comporte.Comportem-se DJ’s. Enquanto a China continuar a controlar a taxa de natalidade, há espaço para todos.

De olhos em bico? Só mesmo pela falta de luz nas cabines… Não sei como é que não há mais DJ’s pitosgas! Ah, esperem… provavelmente porque olham só para o umbigo e se esquecem de quem quer está à sua frente… Tina Charles, sem misturas, levas-me a dançar?