quinta-feira, 10 de abril de 2008

Rímel, Laca & Companhia.

Eu tenho um probleminha.
São uns tubos que levam gelo, uma palhinha e uma enormidade de calorias que fazem rir. Ai rir! Ai, se fosse só isso! Ai. O proble-minha é que ligo o botão de on e desgraço os ouvidos dos incautos que apanho pelo tímpano.

Há dias um parvalhão (do) auricular disse-me que eu falo mesmo muito. Cabisbaixa, mas de orelhas sempre levantadas olhei para o gelo no fundo do meu copo e achei que estava a mais. Não na conversa – menos, Belchior! -, mas no trio de interlocutores que ansiavam pela minha ausência com tanta pressa quanto conseguimos dizer: Arranjem um quarto!
O WC era a escapatória mais próxima. Lá dentro, nesse reino do pó de arroz, um grupo de guapitas dava os últimos retoques na mascara da segurança que iriam usar nessa noite.
“- Sabes o que eu queria mesmo hoje, amiga? Laca, rímel e um homem! Por esta ordem.”

Pensei que deveria ser exactamente o contrário: que ela deveria querer um homem capaz de apreciar o laquê e esborratar o rímel. Sem ordem. O progresso deveria ter-nos feito acreditar mais no culto do ser do que do parecer, mas parece-me que quem não se parece bem vai sozinho para casa. Que o diga a Jane Fonda que inventou a aeróbica e que aos 70 vende laca de hipermercado enquanto os rappers da treta – alguns até falam mais do que eu! - rimam sublime com Maybelline. E eu tenho um probleminha? A minha mania de botar faladura é mínima comparada à opção de ter laca e rímel em vez de boa companhia.
Será que não vale mais ser uma companhia hiper-mega-ri-fixe – ainda que menos oxigenada, plastificada – do que ser um ser que facilmente se troca por produtos de beleza? È que se realmente o que nos vai na alma deixou de importar alguém que me avise! Que em vez de eu própria, passo a enviar para os in-ventos um poster devidamente passado ao photoshop mais ou menos com a minha altura e nos meus melhores dias.
Há gente irritante. Que los hay, hay. Também há malcheirosos, deprimentes e festeiros. No meio do imenso maranhal de caras, maquilhagens e estilos há sempre alguém que vale mais a pena do que os tubos calóricos, os de rímel e os de laca. Por esta ordem.

- Knoc. Knoc. “Está ocupada?”

Estou. Ocupada a pensar no que será de nós que só sabemos comunicar pelo MSN, pelo Skype, pelo Hi5, pelo ICQ, pelo SMS que nunca expressa a devida emoção. Estou. Com um copo a mais que já estou a deprimir até o rolo de papel higiénico onde desenhei dois olhinhos com o meu lápis Chanel (só para não me sentir tão sozinha, snif).

- “Preciso mesmo de tirar o sapato que me está a magoar e conheci um giro que só quer dançar. Não se importa?”


UFO! (Mariana go home!) Afinal ainda há esperança. Quando finalmente uma mulher junta sapatos e companhia na mesma frase a noite já não pode correr mal. (Só espero que não se distraia e não use o papel Chanel…)

0virgula33gramas

Noventa e dois mil quilómetros depois tinha de acontecer.
Já furaram os dois pneus da frente. Já avariou outras tantas duas vezes. E há uns senhores que dizem que tem um furo no vidro da frente que desliga a centralina (f*%&!!!!). Só faltava mesmo a Operação STOP.

É verdade que o galito, que com sorte ainda acabou em repasto dominical, já afinava umas notas, mas a noite era ainda um pintainho. Pelo menos no meu fuso horário.
Com as patinhas, que nunca acabarão em canja, a gritar socorro devido a uma péssima escolha de sapatos (eu penso que tenho uns Prada, mas na realidade são uns Zara de napa, que valem zero de nada), retirei-me com ares de Cinderela afectada. Pelos copos, tão naturais quanto a sede.

Até que fui parada pelo Pinheiro. O Pinheiro estava a parar toda a gente.
“- Bom dia! Agente Pinheiro, documentos faixafo”
Bom dia? – pensei eu indignada – Se tivesse relógio poderia confirmar a hora. Ah! Vou ver no relógio do carro. f*%&!!!! A centralina está com SPM. Não funciona. Vou ver no telemóvel. Será que eles me podem multar por pegar agora no telefone? O que é que ele queria mesmo?

“ – Os documentos, menina! A menina bebeu?”
Sr. Agente!!! Que calunia! Repare, são quase seis da manhã e é óbvio que não bebi! Aliás como é que lhe passou sequer pelo bigode que as pessoas que saem à noite bebem!? Heresia! Eu só vim mesmo pela música, sabe é que gosto muito desta onda com toques no minimal de nomes como Dubfire ou Tenaglia. Eu acho que é o som de 2008. Familiar com os nomes, por certo?

“ – Sr. Agente Pinheiro, bebi dois licores ao inicio da noite.”
E mais uns três lá pelo meio e um shot perto do fim, mas acha que isso significa que não consigo apanhar uma pulga na sua bigodaça? O Quim Barreiros já viu isso, já? Um tufo desse bigode orgulhoso servia para colar o vidro do meu carro e salvar a centralina! Com um jeitinho ainda reenchia os estofos!

“ – Já fez o teste do balão?”
Assim do balão que me lembre não! Mas fiz à pouco tempo uns testes de resistência no ginásio. E fiz os testes de aptidão no secundário. Não?

“ – Muito bem menina Mariana, vamos lá fazer o teste. Tem de soprar e quando a máquina ler os dados: ela apita”
Bom, está esterilizado. E eu andei anos na natação. E não bebi assim tanto. Posso chamar o meu pai?

“- Hum… 0,33! Está a ver, não era preciso ter medo!”
Medo? Oh Pinheirinho! Medo eu tenho que me acabe a água quente no banho! Não de um balãozito estéril à caça de sopros fora da lei. Que os meus limites imponho eu e sei bem onde eles estão. E se isto fosse no país da minha tia Oprah ainda te processava por presumires que estava com os copos. Aliás isso não se pode fazer? Processar a polícia por desconfiar da nossa palavra? Humpf! Que miséria.


“- Ai, senhor agente: desculpe. Que raio de terreno irregular!!!!”
Ah! Ah! Malévola! Bem me parecia que os sapatos haveriam de ter algum uso nesta noite de caça à multa. Nove centímetros mesmo no dedo mindinho! És grande! És grande, miúda!

– “Vá lá menina, faça boa viagem. Não foi nada. Não foi nada. E porte-se bem. Não saia dos zeros!!”
Obrigada Pinheirinho! Pelo menos tenho a certeza que o tamanho do meu decote te pôs as luzinhas a piscar. Bem feita. Porque aposto que quando chegares a casa bafiento e com um quê de seboso, oleoso até, um STOP é a única coisa que vais levar. E se ela for um zero a soprar… Só tens o que mereces. É porque ela se porta bem, como tu tanto gostas!