sábado, 31 de março de 2007

A palmadinha

Podem fechar o sorriso malandro, ao jeito de “é isto é que o meu povo gosta” porque a palmadinha aqui é outra. Nas costas. A da amizade. Ainda que colorida é sempre bem mais negra do parece. Afinal, vamos fazer amigos entre os animais. Sociais, pois claro. Mas quando chegar à altura certa, fazemos como os outros: ao abandono. Que mais não merece quem cresce mais do que a conta. Parece-me uma heresia achar que andaram às palmadas – pese embora tenha sido a de D. Afonso Henriques à mãe que garantiu a portugalidade- mas é verdade é que considero que Almeida Garrett bem que manda uma palmada a isto de ser português, desculpem, portugesinho, no seu famoso Frei Luís De Sousa. Passo a transcrever: “Romeiro, Quem sois vós?”“Ninguém”

Não deixa de ser engraçado que uma obra escrita em 1844 se possa adequar tão bem às noites do séc. XXI. Garrett bem que foi considerado obsceno, já eu acho simplesmente que é falta de educação. É de uma tremenda hipocrisia, romeiros das noites do jardim à beira mar plantado, que se desfaçam em sorrisos durante a noite e depois… Era uma vez, que-é-de-dia-e-agora-não-te-conheço-de-lado-nenhum.No stress. Nem quero ser vossa amiga: Mesmo.É um um paradoxo engraçado, um modo de estar intrínseco da cultura portuguesa este:“Vamos ser amigos”,este: “venha daí a palmadinha” – nas costas -, este: vamos beber um Shot que “ó tu estás aqui!!”( enquanto se aponta efusivamente para o coração… A maior parte das vezes colocado do lado errado).

E depois dos copos: Puff! Passa a magia. Afinal descobrimos que aquele amigo trendy, super-fashion, bué de in que só compra roupa em lojas tão exclusivas que nem diz o nome também vai ao Shopping ao domingo à noite.

De fato de treino: “O grande sacana que não merece viver! E eu que bebi um copo com ele ontem, convencido de que era alguém IN!”Pior… Damos de caras com ele na barraquinha da feira onde se compra roupa de marca mais falsa que os sorrisos que nos vendem à noite: “Ahn? Hum? Não há máquina fotográfica por perto? Bah! Que se lixe… Vou fazer de conta que não conheço… até à próxima noite que em ficar bem cumprimentar”.Não sei se o Almeida Garrett usaria, mas a avaliar pela época em que viveu a luva branca seria uma acessório indispensável. É como as palmadas nas costas.
E a valente estalada que o Afonso Henriques deu à mãezinha: Ficaram no nosso imaginário até hoje. Eu também imaginava. Imaginava que independentemente do status nocturno, os amigos abririam sempre um sorriso (Um Pan Am também vale ) Nada disso: È mais: “Luzes, Câmara… Quem são?” A resposta é só uma, evidente, e muito antiguinha: “Ninguém”. Porque são esses ninguéns romeiros de uma feira de vaidades onde amizade sem interesses é conceito obsceno que dão lucro aos Clubs e enchem as noites. De palmas, claro. Pelo bom trabalho que DJ’s, animadores, Promoters e Bartenders sabem fazer.

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