sábado, 31 de março de 2007

Histerias

Histerias.

Os meus sábados à tarde estão a mudar. Dantes ia para as compras e, geralmente, ficava histérica. Agora vou para o Curso e fico, absolutamente estérica. Definitivamente a partir dos 25: a vida não é igual.Eu tinha uma vaga ideia. Que a capacidade do corpo reciclar excessos abrandava ao ritmo escasso dos ecopontos urbanos a partir dos 25. È também a idade em que percebemos melhor o que queremos. Ser ou não ser, eis a questão.Eu nunca quis ir pela música. Limitava-me a gostar dela, sem nunca ter percebido que amar sem entender… Não é possível. Para mim, os melhores pratos eram de Spaghetti Nero. Embora a minha mãe referisse várias vezes a Vista Alegre. A cabine só vista, realmente. E alegremente, de fora. Botões, os dos meus casacos. E discos, os da minha estante. Phones, os de levar para a praia. Agulha, a das lições de tricot. E mala, para viajar.

Big Bang! E a ordem do universo altera-se.Botões, os da mesa. E discos, os novos, os velhos, os clássicos. Phones, os profissionais. Agulha, a do vinil. E mala, de DJ.Sábado à tarde. Hora de curso para candidato a cabine, critica e até… aplausos. Um DVD sobre a história da música, DJ’s consagrados, mesas, CD’s, loops e o Final Scratch a inspirar a tirada do mestre perante os alunos desconfiados da ligação entre um computador e um vinil: “os discos têm estrias, não sabiam? Passem a mão e sintam”.Olhei à minha volta. Única rapariga no meio de uma turma de homens. Estrias. Disse, ele. Tenho as minhas contadas, como todas as mulheres. E o teacher, teacher apela que lhes toquem, que as sintam a vibrar para perceberem a alma da música.

A minha ficou riscada. As mulheres lutam uma vida inteira contra um espelho sem piedade e de repente há uma geração inteira a aprender a sentir estrias. Acudam-me que quero gritar.
Pelo menos, se posso ser comparada a um disco, alguém me deixa ser o Let The Music Play, do mítico Barry White? É que esse é o meu lema.Depois do primeiro banho desta nova e absurda realidade, faço-me à estrada. It’s a mens World. E eu não quero misturas. Mas eles não resistem. A forma que encontram para mostrarem que dentro da cabine são os homens que mandam… São os constantes bitaites à técnica, à escolha musical, à sequência dos discos… Estranho que do decote e dos tacões ninguém fale, sendo que essas seriam duas armas de arremesso bem mais perigosas do que qualquer CD ou vinil que a mala profissional comporte.Comportem-se DJ’s. Enquanto a China continuar a controlar a taxa de natalidade, há espaço para todos.

De olhos em bico? Só mesmo pela falta de luz nas cabines… Não sei como é que não há mais DJ’s pitosgas! Ah, esperem… provavelmente porque olham só para o umbigo e se esquecem de quem quer está à sua frente… Tina Charles, sem misturas, levas-me a dançar?

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