quarta-feira, 25 de abril de 2007

VIP

Estou convencida de que, lá bem no fundinho do imaginário de todos os clubbers, existe o desejo intrínseco de um qualquer destes dias pertencer, entrar, subir… à zona VIP. Na versão V.ery I.mportant P.erson e não na versão V.ai-te I.mbora P.orca.
Digo isto assim: a seco. Provavelmente como resultado de uma longa noite regada a um daqueles champagnes que não se vende na loja dos 300. V.ai-te I.mbora P.orcaria. (de ressaca, claro).


A Zona VIP é um território perigoso, quase sempre minado. Há falta de critério definido pela ONU há humanos que tem esse direito e há outros que não, mas a linha (está a valer quanto agora?) é tão fina que muitas vezes não se dá logo por ela.

Tenho de admitir: não fui sempre ultra-gira como sou agora (a modéstia e a agua benta são do melhor que há para o day-after). Longas foram as noites em que o Wilson não me deixava entrar na Industria. Algumas em que o Tiago Pinto Leite me deixou ao frio à porta do River e outras em que percebi longamente a grandeza arquitectónica da fachada do Lux.
Loucas foram as noites em que, efectivamente eles gostaram das aparências, e consegui entrar em espaços para lá de lotados onde o único perfume que se sentia era Eau de sovaco. Um charme.
Invariavelmente, em todos estes locais, havia meia dúzia de gente mais ou menos conhecida que ocupava a zona VIP. Eu chegava a casa amassada, com um odor que se pode definir como um cruzamento manhoso entre chi-charros fumados e bafos resultantes da falta de dentes, invariavelmente, laterais. Os VIPs saíam sempre bem. Secos dos banhos de multidão. Às vezes cristalinos, mas isso é coisa para fornecedor resolver.

Algumas noites, copos e decotes depois dei por mim numa Zona VIP. Ainda estou para perceber o que deu tal direito, mas pelo sim, pelo não resolvi apreciar o momento. Descobri rapidamente que perfeito, perfeito é galar descaradamente a técnica do Dj. Ouvir música é fantástico, mas ver tocar… é outra louça (não admira que na zona VIP geralmente se acabe a noite a partir tudo). Depois, descobri que é giro ser bem tratado. Para variar! Há alguém que responde à nossa sede com um sorriso e até há alguém que pergunta se estamos bem. Em relação aos que estão na pista, aquela massa disforme que pagou pela entrada, que demora horas para conseguir um copo e que encontra um WC mais ordinário que o livro da Carolina Salgado…. Temos pena. (não me chamem já P.orca, estou a curtir os meus 15 minutos de fama e o meu WC tem papel: nhe, nhe, nhe, nhe, nhé!).

Como não há bela sem mestre aprendi rapidamente que para os tímidos – sim, como eu – a Zona VIP não é um espaço assim tão apetecível. As pessoas olham, fazem comentários e tenho a certeza que aquele risinho sarcástico tinha a ver com a minha roupa. Ou, assertivamente, com a falta dela. Demoro uns minutos e uns flutes a recompor a auto-estima. Vejo a música a tocar, tenho espaço para dançar, dirijo-me às duas bimbas com falta de dentuça à esquerda e atiro-lhes a frase letal, aquela que é capaz de fazer qualquer mulher espumar de ódio:
- “Olha filha, sabes qual é vantagem de estar na Zona VIP? É que não estrago os sapatos!!”
E depois desta – crónica – vou inscrever-me na esgrima. Que autodefesa nunca é demais e estou mesmo a precisar de argumentos para comprar uns rasos.




Nota da cronista: Obrigada aos meus amigos VIPS, mais ou menos e nada disso por terem recolhido os meus amados sapatos rosa chique depois de eu me transformar na nova versão da Sandie Shaw:. Like a puppet on a string…..!

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